Não deveria, mas continuo me surpreendendo com a magia que a Tahereh Mafi opera com as palavras.
Esse livro é totalmente diferente da distopia famosa da autora, a mundialmente conhecida série Estilhaça-me, mas nem tanto.
A temática da afetação de um indivíduo por parte das opiniões e julgamentos das pessoas com quem convive é similar em ambos os livros, embora em Oceano entre nós a autora acorde o tema pelo prisma do preconceito racial.
Shirin é uma jovem americana com descendência persa que escolhe usar hijab como forma de assumir o controle sobre o próprio corpo e sofre abertamente preconceito e discriminação por sua etnia, potencializados pelo medo e ódio que os eventos de onze de setembro causaram na população americana.
"Ali eu poderia ser mais do que os padrões que a sociedade aplicava à minha vida. Era tudo que eu sempre quisera."
Ocean é um típico jovem americano privilegiado, astro do basquete, com um lar quebrado, e prestígio escolar, mas Shirin não sabe nada disso, porque não ergue a cabeça o suficiente para prestar atenção em ninguém ao seu redor, pois está desesperadamente tentando não atrair atenção para si mesma.
Mas Ocean a vê. Ele enxerga o que está além do véu e sob a armadura de Shirin, tanto que a faz enxergar a si mesma sob outra perspectiva.
"Algo vibrou no meu coração. Senti minha armadura começando a se quebrar."
Em toda a sua batalha para fugir das agressões, abertas e veladas, ela não notou que também era agressiva e ostensiva e que sua postura intimida as pessoas tanto quanto se sente intimidada por elas.
"Se talvez tivesse me deixado cegar pela raiva, excluindo todo o resto. Se talvez, apenas talvez, estivesse tão determinada a não ser estereotipada que comecei a estereotipar todos ao meu redor."
Dar uma chance a um relacionamento com Ocean vai muito além dos dilemas adolescentes comuns, da tensão, da inexperiência, da incerteza. Investir nesse relacionamento é enfrentar os julgamentos de quem não quer compreender uma relação interracial. De quem não quer ver mais do que a afronta de uma muçulmana namorar o astro do basquete da escola americana.
Shirin tem consciência disso. Ocean não.
"Podia ser que bastasse a lição de que o amor era uma arma inesperada, a faca que eu precisava para romper a armadura que costumava usar todos os dias."
Esse livro é esplêndido. Não tem outro adjetivo pra descreve-lo.
Esse livro é sobre realmente olhar para além da superfície e se desprender de todos os pré-conceitos. É sobre despir-se da ignorância e da falta de informação . É sobre empatia e sobre humanidade.
É muito mais do que um romance adolescente. É muito mais do que um romance contemporâneo. É muito mais que um romance. É a perfeição em forma de literatura, com a acidez e a fluidez típicas da Tahereh e pura magia nas palavras, que transcendem as páginas e penetram profundamente no coração.
Faça as malas e se deixe levar por esse livro absolutamente esplêndido que faz repensar tudo o que achamos que sabemos sobre o mundo e as pessoas que vivem nele.
Vamos viajar?!
Continue acompanhando o blog para mais resenhas, indicações e dicas de leitura!
Confira a resenha de Estilhaça-me e Além da Magia, ambos da mesma autora, aqui no blog!
Conheça outras obras da Tahereh Mafi na sua página da Amazon!
Siga a autora nas redes sociais para saber mais sobre ela e seus livros!
Comentários
Postar um comentário