GAROTA EM PEDAÇOS - KATHLEEN GLASGOW

 


Se você não gosta de livros com temáticas complicadas e pesadas, com muitas descrições físicas e emocionais de distúrbios e se situações de depressão, automutilação, tentativa de suicídio e abuso de substâncias são gatilhos para você: FUJA DESSA LEITURA.

Porém, apesar de despertar muitos gatilhos e ser uma leitura tensa e dolorida, recomendo muito desbravar a história de Charlotte Davis.

"Eu cortei todas as minhas palavras fora. Meu coração estava cheio demais delas. [...] Os desenhos são as minhas palavras, são as coisas que não consigo dizer."

Confesso que tive alguma dificuldade em prosseguir na leitura em alguns momentos, principalmente nas partes mais descritivas dos transtornos das personagens, mas achei essencial essa leitura para compreender um universo com o qual tive pouco ou nenhum contato e conseguir absorver a sinceridade do sofrimento de pessoas como a Charlotte, que buscam na dor uma fuga dos seus traumas e da sua realidade cruel.

Charlotte é uma protagonista conturbada e não cativa de imediato o leitor, até porque ela não pretende ser aquela mocinha típica de romances contemporâneos estrangeiros, que beira a perfeição. Pelo contrário, ela é taciturna, fechada, obtusa e esconde muito profundamente seus segredos, muitos dos quais o leitor só desvenda de forma intuitiva ao final da leitura.

"As pessoas têm tantos segredos. Nunca são exatamente o que parecem."

Nada é óbvio neste livro. Tudo é profundo e muito tocante, especialmente as partes sofridas.

A autora Kathleen Glasgow, que também sofre do Transtorno do Controle do Impulso, um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem, não tem a pretensão de contar uma história com final feliz, onde as pessoas magicamente se curam e o amor tem o potencial de cicatrizar todas as feridas

Ela sequer disfarça ou tenta esconder essas feridas e as partes mais sofridas e feias do ser humano. Pelo contrário, ela expõe tudo de forma crua e tensa, o que choca e dói, como na vida.

"Preciso de libertação, preciso me machucar mais do que o mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar."

Não é à toa que esse romance figurou na lista dos mais vendidos do The New York Times e que se tornou grande sucesso entre os Book Tokers, porque ele expõe algo sério e real de forma sincera e se propõe a trazer clareza sobre esse distúrbio, porque precisamos falar de temas como este e acolher mais; julgar menos.

"Garotas que escrevem a dor que sentem nos corpos."

Esse livro não é um conto de fadas e as personagens não se curam magicamente e algumas tem finais bastante sofríveis e duros para o leitor encarar e aceitar, mas ele traz um importante mensagem de acolhimento e esperança.

A decisão da Charlotte, apesar da solidão, das dificuldades, da dor, de viver e não mais apenas sobreviver é inspiradora, tanto quanto sua força de vontade e a paixão pela arte, que a motiva a transformar sua dor em algo belo e palpável, e sua coragem de expor suas cicatrizes sem medo de enfrentar o julgamento alheio e o dela própria.

"É tudo o que sou agora, essas linhas e queimaduras, os anos por trás delas."

Faça as malas, despojadas de qualquer preconceito, e embarque nessa leitura esmagadora e verdadeira que faz refletir sobre nossas escolhas, os caminhos que percorremos e as cicatrizes que nos acompanham, assim como as pessoas com quem cruzamos pelo caminho e o quanto elas podem nos ensinar e elevar, mesmo quando não nos trazem exatamente aquilo que esperávamos.

Vamos viajar?!

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