As feministas que me desculpem, mas as princesas importam! – P. G. S. ZAGO (TEXTO ORIGINAL)

 


Recentemente vi circulando nas redes sociais algumas charges sobre o que as princesas da Disney conversariam com um psicanalista e confesso que não achei graça da superficialidade das falas ali representadas, que supostamente possuíam o condão de divertir e talvez estabelecer alguma reflexão, e isso me levou a outras páginas com textos, manifestos e diálogos sobre o papel das princesas no mundo contemporâneo e na educação de crianças para um diálogo sobre feminismo, empoderamento feminino e o papel das mulheres no século XXI.

Sendo mãe de uma menina de quase 7 anos, este certamente não é meu primeiro contato com este tema, especialmente porque sou uma ávida leitora e sempre fui muito interessada pelo universo infantil, a educação e psicologia infantis, e já li muitos livros e textos a respeito dos diversos temas que permeiam este universo, inclusive um livro técnico chamado A psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim.

Eu cresci ouvindo as histórias dos irmãos Grimm e assistindo aos filmes da Disney e amando as princesas e suas histórias. Continuo assistindo os novos lançamentos até hoje, mesmo há alguns anos atrás quando eu ainda não tinha a desculpa de estar acompanhando minha filha. E tenho que admitir que não consigo compreender que benefício trazem esses ataques às princesas, e à Disney por consequência, à causa feminista e ao empoderamento feminino.

O movimento feminista teve seu início no século XIX, como movimento filosófico, social e político, na busca pela igualdade de gêneros (homens e mulheres) e pela participação da mulher na sociedade. Esse movimento ganhou força no século XX e foi responsável por preconizar esclarecimento e diálogo sobre os direitos das mulheres na sociedade e por auxiliar na conquista da regularização de importantes direitos para as mulheres, como possibilidade de educação, acesso ao voto, igualdade de salários (que ainda não se consolidou em todos os âmbitos e permanece em discussão), dentre outros.

No século XXI, com o aumento da tecnologia e polarização do acesso à informação, esse movimento, como muitos outros importantes, ganhou maior visibilidade, especialmente na atualidade com as divulgações de opiniões nas redes sociais, e isso, embora benéfico, também contribui para visões equivocadas sobre o feminismo, principalmente pela veiculação de discursos de ódio e intolerância que se observa por parte de pessoas que se dizem parte desse movimento.

Algumas opções para conhecer mais sobre o movimento feminista:

https://handraamorim.com/desmistificando-o-feminismo/

https://www.politize.com.br/movimento-feminista/?https://www.politize.com.br/&gclid=Cj0KCQjwvvj5BRDkARIsAGD9vlJvh4lzvsQy29tLj14KfkyNLjpHe-7XnAOUEbhnDi_I-0e4-uyDWmkaAhnDEALw_wcB

Não sou eu quem está dizendo que representantes do movimento feminista classificam as princesas como maus exemplos para crianças sob o ponto de vista de uma educação voltada ao empoderamento feminino e igualdade de gêneros. Quem diz isso são elas próprias, e isso pode ser observado em várias publicações, a exemplo neste link (https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/comportamento/ninguem-segura-essas-mulheres/).

Para exemplificar, nas palavras da blogueira feminista Isabela Kanupp, autora do blog Para Beatriz, que considera as princesas da Disney como maus exemplos, por apresentarem personalidades submissas e incentivarem padrões de beleza inalcançáveis e estereotipados, “(essas personagens) são submissas e estão sempre à espera de um príncipe que as salve”. Depois, em total contrassenso, faz a seguinte referência "Criança tem de ser livre para ser criança, para brincar, sair correndo, subir na árvore”.

E é exatamente neste ponto que está a minha irresignação.

Criança tem que ser livre para ser criança, como disse brilhantemente a blogueira Isabela Kanupp. A palavra chave aqui sendo LIBERDADE. A criança tem que ter liberdade para definir suas preferências e só poderá fazer isso se puder ser exposta, de forma orientada, a diversos exemplos. A criança tem direito a ter liberdade também de escolher gostar das princesas e das lições por elas ensinadas.

Muitas representantes do movimento feminista extremado – fazendo uma breve pausa para salientar que o problema aqui não é o movimento feminista, mas sim o extremado, pois a verdade está no equilíbrio – acabam por afastar as pessoas desse movimento de tamanha importância justamente por exprimir uma intolerância à liberdade das mulheres em optar por padrões que elas rejeitam, como ser donas de casa, mães e esposas.

Mulheres que optam por seguir padrões considerados arcaicos pelo movimento feminista, como dedicar-se ao lar, filhos e marido, são ridicularizadas pelo movimento e taxadas como submissas, em total desrespeito à liberdade dessas mulheres em escolher seguir esses padrões, reforçando a premissa de que a frase de destaque do movimento, “lugar de mulher é onde ela quiser”, só vale caso a mulher siga os padrões de uma típica mulher moderna do século XXI. Julgando e estigmatizando, em total contrariedade à sororidade que o movimento feminista tanto prega.

A discussão sobre o papel dos homens e das mulheres, sobre empoderamento feminino e sobre conquistas de direitos importantes para a humanidade são válidas sempre, e claro que os livros, desenhos animados e filmes aos quais as crianças são expostas influenciam nesses e em outros conceitos. Porém, a resposta não é excluir determinadas histórias do meio infantil, como já ouvi em discursos de algumas mães feministas, que proíbem os filhos de assistirem aos filmes da Disney, a exemplo, a cantora Alicia Keys.

Afinal, não são os livros, a televisão ou o cinema que tem a responsabilidade de educar as crianças sobre o papel dos homens e das mulheres na sociedade. Essa responsabilidade é dos PAIS. Dos educadores e do restante da família também, claro, por serem esses os principais exemplos nos quais as crianças se espelham, por mais que adorem e fantasiem com determinados personagens.

São os pais os primeiros e principais exemplos de como homens e mulheres devem se portar dentro e fora dos lares, individual e coletivamente. Não adianta nada vetar as princesas e rechear o cotidiano da criança com atitudes machistas, como estabelecer tarefas domésticas paras filhas meninas e não para os meninos, como deixar os filhos adolescentes irem a festas e não as filhas, como dizer à filha que ficará gorda se continuar comendo tanto doce ao invés de pontuar como isso irá interferir na sua saúde (afinal, estar acima do peso não é sinônimo de falta de saúde, assim como estar magra não é necessariamente sinônimo de saúde), corroborando com a visão estereotipada dos padrões de beleza femininos.

Aqui em casa nós adoramos as princesas e a Disney e preferimos que nossa pequena assista a estes programas do que a muitos canais do YouTube que não apenas não são nada lúdicos ou didáticos, como reforçam muito mais do que as princesas conceitos ruins sobre cidadania e humanidade.

Aqui em casa, nós acreditamos que não basta escolher bons programas para nossa filha assistir, se não dedicarmos nosso tempo a conversar com ela sobre aquilo que ela está vendo e sobre o que entendeu da história e das lições ensinadas. Especialmente porque crianças não racionalizam as coisas da mesma forma que o adulto, e suas interpretações são por vezes muito menos limitadas do que as nossas.

As feministas que me desculpem, mas as princesas importam. Elas ensinam válidas lições, tanto para meninas como para meninos. Cinderela é resiliência. Ariel é transformação. Mulan é coragem. Moana é determinação. Bela é compaixão. Merida é bravura. Aurora é doçura. Branca de neve é humildade. Elza e Ana são cumplicidade.  Jasmine é irresignação. Rapunzel é esperança. Pocahontas é sustentabilidade.

“Sonhe alto. Sempre tem uma princesa que mostra que é possível. Sou princesa, sou real. Você pode ser quem quiser. Atitude de princesa.”

Para isso é preciso olhar além da superfície. É preciso dedicar tempo aos filhos e com eles dialogar, e não apenas repassar o papel de educar para a televisão, cinema e literatura, e depois culpa-los por disseminar maus exemplos. Seja você diariamente o exemplo que quer que seus filhos recebam. Telas e livros, por melhores que sejam, não substituem o papel dos pais em ensinar valores.

Todos somos capazes de belos discursos, mas são as atitudes diárias que efetivamente nos definem. São nossas atitudes diárias, mais que nossos discursos, que as crianças observam e repetem. Por isso não basta fazer belos discursos e postagens cheios de eloquência representando opiniões se não for nelas que pautamos nossas ações no cotidiano. Repito: Seja o exemplo que você pretende para os seus filhos!

Liberdade é poder escolher ser o que quiser, sem preconceitos, sem predefinições, sem estigmas e estereótipos, seja qual for a escolha. A liberdade deve sempre ser respeitada, inclusive a liberdade para ser feminina, dona de casa, princesa, e ainda assim defender o direito das mulheres, dos homens, das crianças, dos animais, da natureza!

Inclusive a liberdade de ser criança e aproveitar o lúdico, o mágico, o infantil, sendo ensinado a respeitar a si mesmo e a todos à sua volta, independente das diferenças, recebendo dedicação e apoio da família, com exemplos válidos a serem seguidos, sem ser submetido a discussões políticas que escapam à sua capacidade de discernimento e entendimento.

Por um mundo com menos intolerâncias e mais liberdade!


Dois textos que aprofundam a perspectiva positiva das princesas:

https://medium.com/@nairnascimento/o-feminismo-machista-e-a-problematiza%C3%A7%C3%A3o-das-princesas-disney-31b68d6afcc0

http://www.ilisp.org/artigos/o-feminismo-nao-gosta-das-princesas-das-recatadas-e-das-do-lar/

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