Não é a primeira vez que ressalto que fazer resenha de livro de poesia é impossível, mas é plenamente possível recomendar! E é isso que venho fazer aqui hoje, depois de ler dois dos livros da Amanda Lovelace: A princesa salva a si mesma neste livro e A Bruxa não vai pra fogueira neste livro.
As obras da Ananda Lovelace não são contos de fadas, ou de bruxas. Nada aqui é lúdico e romantizado. Na verdade é o oposto.
"A princesa pulou da torre & ela aprendeu que podia voar desde o começo. - ela nunca precisou daquelas asas."
Através de versos e poemas, a autora expõe seus sentimentos mais profundos e fala abertamente sobre temas incômodos. Todos ligados ao tema central: ser mulher no século XXI.
"Esta é uma história simples na qual as mulheres lutam contra a estrutura criada pelos homens, que permaneceu muito mais tempo do que devia."
Não é uma leitura fácil . É dura, ácida, crua e trás à tona sensações amargas e desagradáveis, as mesmas que experimentamos quando vemos mais uma notícia de uma mulher violada, em sua intimidade e liberdade. As mesmas que trazem aquele gosto amargo à boca quando assistimos essa mulher violada exposta ao julgamento da sociedade que não a protegeu.
"A única coisa de que somos culpadas é sermos mulheres. essa é, ao mesmo tempo, a resposta certa & errada. para os caras dos fósforos, nossa existência é a forma mais negra de magia, normalmente punida com a morte."
É impossível ficar imune a essa leitura, ao fogo que ela deflagra, quando nos conecta à nossa ancestralidade, a todas as mulheres que nos antecederam nessa árdua luta diária que é apenas existir e coexistir em um mundo que não foi feito para nós.
"Eles querem acabar conosco antes que nós tenhamos a chance de acabar com eles. - o segredo mais bem guardado."
Dói ler as emoções impressas em palavras e versos estruturados e saber que esse sofrimento nos é comum e pungente, que aflige tantas de nós.
"As mulheres aguentam não apenas porque somos capazes disso; não, as mulheres aguentam porque não temos outra opção. - eles nos queriam fracas e nos obrigaram a ser fortes."
Dói ser lembrada de que o simples fato de existirmos e ousarmos expressar nossos sentimentos e opiniões é incômodo, que nunca logramos evitar o julgamento, mesmo quando as atitudes não são nossas. Especialmente quando as atitudes não são nossas.
"Ser uma mulher é estar pronta para a guerra, sabendo que todas as probabilidades estão contra você. - & nunca desistir apesar disso."
Dói confrontar o que queremos e desejamos com o que é esperado de nós, para favorecer um sistema que nos desfavorece.
"Eles vão tentar roubar sua luz & usá-la como uma arma contra você mesma. [...] Eles não têm perseverança para controlá-la como você tem."
Sim, É uma leitura dura, porém necessária.
Porque precisamos compreender que nosso papel não é o que foi escrito para nós, mas o que queremos exercer.
Precisamos honrar nossas ancestrais que lutaram pelo direito de existirmos.
Precisamos honrar à nós mesmas em nossa ousadia de persistir.
Precisamos conquistar um futuro para a legião de mulheres que virão e que merecem ter honradas a sua liberdade, intimidade e dignidade.
"Eu sei sobre aquela voz dentro de você. Sim, eu sei tudo sobre a mulher que tem gritado a vida inteira pela chance de ser ouvida por alguém. Pegue essa caneta de mim & liberte-a. - você deve isso a si mesma."
Essa leitura é necessária para todas as mulheres que precisam ser lembradas de sua força e coragem e de que são capazes de qualquer coisa que seus corações desejarem! Para todas as mulheres que precisam ser lembradas de que podem salvar a si mesmas e que podem deixar queimar seu fogo ancestral e expor toda a sua glória feminina!
"Quando eu morrer não perca um minuto chorando por mim. Posso ir embora mas vou deixar para trás todas as minhas mil & uma vidas. - uma garota louca por livros nunca morre."
É uma leitura que inspira e motiva esperança de que o mundo pode não ter sido construído para nós, mas aqui estamos e aqui permaneceremos, contra todas as estatísticas e imposições, contra o patriarcado, contra a misoginia, contra as humilhações e injustiças. Simplesmente porque queremos e podemos.
É uma leitura que faz repensar nosso papel enquanto indivíduos e seres sociais e, principalmente, nossa relação conosco mesmas e com as outras princesas e bruxas que nos cercam e que nós tão facilmente julgamento e expomos juntos com "os caras dos fósforos" ao esquecermos do nosso papel nessa IRMANDADE.
É uma leitura que nos lembra de praticar todos os dias o AMOR-PRÓPRIO e a SORORIDADE.
Faça as malas e permita-se sentir tudo que lhe foi calado e absorver conceitos como amor, perda, sofrimento, redenção, empoderamento e inspiração sob um olhar familiar, com identificação.
Chore, ria, grite, queime e reconheça toda a sua força e o seu valor. Você não está sozinha. Estamos todas juntas. Sempre.
Vamos viajar?!
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Confira, também, a resenha do livro Poeta de um só argumento, da Joana Ferrarini, nesta mesma temática!
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