REAL X VIRTUAL



Nasci na década de 80, por isso tecnologia não é algo inerente a mim. Passou a fazer parte da minha vida gradativamente.

Meu primeiro celular foi adquirido aos 20 anos de idade, e não tinha internet. Tivemos nosso primeiro computador, compartilhado entre 5 pessoas, quando tinha 13 anos, e a internet chegou um ano depois, e era discada. Lembro da emoção em fazer download da minha primeira música, o que levou mais de uma semana.

As séries eram assistidas através da TV a cabo, e chegavam vários meses depois da sua estreia no país de origem. Não tinha como gravar ou assistir quando quisesse. Tinha dia e horário certo, e se perdesse o episódio, podia revê-lo num determinado horário aos domingos, ou então só quando a temporada acabasse e começasse a sua reprise, até a chegada da nova temporada. Uma verdadeira tortura, mas que proporcionava uma conexão totalmente diferente e muito mais intensa!

Livros, então...até chegar a versão traduzida nas livrarias, era uma verdadeira eternidade. E para conseguir o livro em idioma original, somente sob encomenda, e a um altíssimo custo. Então, o negócio era esperar! E esperar e esperar...

Confesso que levei um certo tempo até me aventurar nos livros digitais, e somente embarquei nessa maluca aventura porque o livro cuja sequência eu queria ler ainda não tinha sido publicado no Brasil, então adquiri um e-book, em idioma original. Que livro era esse? Harry Potter and the Deathly Hallows (Harry Potter e as Relíquias da Morte), e não, não era possível esperar pelo final em português e em livro impresso.

Por sorte, há muitos anos eu já tinha domínio suficiente para ler em inglês, e esta foi minha salvação. O livro virtual para sanar minha enorme curiosidade sobre o final dessa saga tão especial na minha vida – e na de muita gente! Claro que quando o livro foi lançado no Brasil eu o adquiri para completar minha coleção e reli em português, somente pelo prazer de terminar a saga da mesma forma que comecei, lendo em papel impresso e no vernáculo.

Mas a partir dessa experiência, outras surgiram. 

O universo literário é muito mais vasto online, e se é possível ter acesso a muitos livros, em muitos idiomas, que até então não eram acessíveis nas livrarias. Pelo menos não a um custo razoável. E, desde então, foram muitas leituras virtuais, e tenho que admitir que um dos meus livros favoritos de todos os tempos eu somente tenho virtual.

Claro que não há nada que supere o cheio de livro novo – ou mesmo o estranho cheiro dos livros usados, comprados nos sebos – e a sensação de passar os dedos pela capa dura e lisinha do livro impresso. Nada substitui a sensação de começar a ler o livro pela contracapa e abri-lo em uma página aleatória e ler só um pedacinho do que está por vir.

Porém, são tempos modernos; de novas oportunidades e tecnologias, e, já que não queremos vencê-las, o jeito é usufruir delas da melhor forma possível!

Além disso, em termos de literatura nacional - minha paixão! - é possível encontrar uma diversidade quase infinita de talentosos novos autores, muitos independentes, que você nunca descobriria se não fosse a oportunidade oferecida pelas plataformas digitais!

Meu conselho aos que ainda não se aventuraram nessa nova plataforma é o seguinte: respire fundo, vença o preconceito, escolha um lugar confortável, iluminação correta, e o livro apropriado para fazer com que essa nova experiência seja bem sucedida e o início de uma nova forma de apreciar as histórias.

 Afinal, é possível também amar o livro virtual. A emoção da viagem é a mesma, é só a forma de viajar que é diferente.

Vamos viajar?


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