Este é o primeiro livro de
fantasia adulto da escritora da famosa série Divergente, que captou a atenção
do público jovem nos últimos anos, tanto na literatura, quanto no cinema.
Este romance só é considerado adulto
por causa da idade dos personagens, pois não há nada além disso que o torne
adulto. A história fantástica de ficção científica envolvendo mágica, universos
paralelos, outras dimensões, exércitos de mortos-vivos, profecias, escolhidos e
Dark Ones é tipicamente mais aceita
pelo público jovem - não que não desperte interesse entre o público adulto. Não apenas isso, as relações entre os personagens são bastante
juvenis, em nada oferecendo uma versão mais adulta dos romances anteriores
destinados ao público adolescente.
O formato do livro é
interessante, sendo dividido em três partes, e os capítulos entrecortados por
documentos ultra secretos aos quais a personagem principal tem acesso e trechos
de livros que ajudam a revelar a trama desta história ficcional. Infelizmente,
talvez esta seja a única parte efetivamente interessante do livro.
A ideia do enredo é interessante,
obviamente, porém, infelizmente, a autora não conseguiu explorá-la de forma
satisfatória de modo a torná-la instigante e empolgante. Na verdade, ela se
prende muito em tentar criar um mistério envolvendo a trama central e ir
revelando aos poucos o conteúdo desta história e acaba esquecendo de criar um
universo efetivamente inventivo e interessante.
Faz falta a existência de
personagens vibrantes. O vilão é enfadonho e nem um pouco assustador, sendo que
o único ponto de destaque é a destruição grotesca que ele causa, o que no final
acaba sendo revelado que nem era causado por ele diretamente! A trama é lenta,
mansa e sem inspiração, e quanto à mágica, fica claro que a autora quis ser
inovadora neste aspecto, trazendo sifões, assobios e respirações mágicas, o que, embora inédito, é levemente ridículo e tedioso.
A personagem principal, Sloane,
uma dos 5 jovens escolhidos com base em uma profecia para salvar a Terra das
garras de um terrível e temível vilão, chamado Dark One, que causa uma
destruição massiva por onde passa, drenando prédios, ruas, objetos e pessoas
com requintes de crueldade, é esquisita, não gosta de nada, não parece ter
personalidade própria e não causa empatia alguma, sendo praticamente impossível
se relacionar com ela, seus dramas e sua história.
A ideia da autora é criar uma heroína
anti-heroica, alguém que a população da Terra tem que idolatrar por ter sido
ela uma das envolvidas em salvar a Terra da destruição, apesar de ela ser
antipática, grosseira e apática. Parece que a escritora tencionava que a
empatia surgisse por conta de todos os traumas e ausências sofridas pela
personagem principal após ter sido eleita para a tarefa de salvar o mundo da
destruição, especialmente quando ela obtém acesso aos relatórios ultra secretos
da missão que evolveu o seu treinamento e desvenda que seu mentor não tinha
qualquer afeição real por ela, como ela supunha, mas apenas usou de táticas
psicológicas de manipulação para melhor conduzi-la a fazer exatamente aquilo
que desejavam que ela fizesse.
Contudo, nada disso é capaz de
amenizar a falta de personalidade de Sloane, que, na realidade, como ela mesma
identifica em um ponto da trama, não quer nada, o que faz com que qualquer
envolvimento ou preocupação do viajante com o seu futuro e com o desfecho da
sua trajetória sumam por completo.
A personagem principal não gera
empatia. Ela é esquisita, não gosta de nada e não é possível se relacionar com
ela. No final é possível enfim criar algum vínculo com ela, mas apenas depois
que ela começa a relacionar com Mox. O final é muito corrido para uma história
tão densa e cheia de nuances. As questões de ficção não são tão bem explicadas
quando se gostaria e acaba deixando um ar de final mal acabado.
"Às vezes Sloane
se perguntava se valia a pena salvar o mundo."
A história ganha um pouco de
interesse quando Sloane, Matt e Esther – outros dois dos escolhidos – são sugados
para um universo paralelo onde há, supostamente, outro Dark One causando
destruição por onde passa e onde uma profecia previu o fim deste mundo, que
eles descobrem – ou são levados a acreditar – que está interligado à Terra. Ou
seja, os três escolhidos precisam novamente enfrentar o maior vilão de todos os
tempos – só que não – para salvar a sua Terra e este outro universo similar,
porém onde existe mágica disponível para todos que queiram.
Sloane desconfia de tudo e de
todos – não porque ela é extremamente inteligente, mas porque ela é
simplesmente tão antipática assim – e, com isso, acaba tropeçando na verdade
escondida e conhecendo pessoalmente o tal vilão que precisa combater, um jovem
chamado Mox, que ela descobre não ser exatamente aquilo que parece ser – ou que
lhe induziram a acreditar que é.
Este e o único personagem
verdadeiramente interessante deste livro, e mesmo assim a autora consegue
diminui-lo, fazendo-o parecer um cyborg cheio de sifões para realizar mágica,
quando sua primeira revelação à Sloane é de que ele sempre foi capaz de
realizar mágica, mesmo quando seus pais moravam em uma das cidades protegidas
da magia deste universo paralelo, o que faz tudo ganhar uma proporção meio
ridícula, quase tão ridícula quanto os instrumentos e usos da magia inventados
pela autora. (Triste)
A ligação entre Sloane e Mox dá
um novo foco de interesse para essa história tão cansativa e monótona, mas
infelizmente isso não é suficiente para deixar a leitura instigante, pois os
momentos dos dois são tão pequenos e rápidos que não dá tempo suficiente de
aproveitar.
Para fechar com chave de ouro a
monotonia da trama, o final é totalmente acelerado e deixa de fora a explicação
de muitos fatores que foram apresentados como importantes durante a obra. Além disso,
talvez a pior parte seja a revelação do vilão, que nem sequer é um vilão realmente,
e o suposto ato de solidariedade de Sloane, ao assumir para si a
responsabilidade de enfrentar o vilão e exterminá-lo de uma vez por todas.
O final fica aberto para uma
possível sequência, que eu sinceramente espero que não aconteça, pois se a
primeira versão já foi tão enfadonha, os poucos elementos interessantes que
foram criados com o fim desta história certamente não seriam suficientes para
gerar uma sequência digna de ser lida.
Eu certamente não repetiria este
destino, pois já fiz outras viagens fantásticas muito mais interessantes e
empolgantes, mas como cada pessoa encontra algo diferente ainda que trilhando o
mesmo caminho, faça as malas, se achar que tem paciência para encarar essa
viagem, e tire suas próprias conclusões e impressões. Talvez você consiga
encontrar formas de aproveitar que eu não achei.
Se encontrar, compartilhe comigo!
Vamos viajar?
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