ESCOLHIDOS – VERONICA ROTH

 


Este é o primeiro livro de fantasia adulto da escritora da famosa série Divergente, que captou a atenção do público jovem nos últimos anos, tanto na literatura, quanto no cinema.

Este romance só é considerado adulto por causa da idade dos personagens, pois não há nada além disso que o torne adulto. A história fantástica de ficção científica envolvendo mágica, universos paralelos, outras dimensões, exércitos de mortos-vivos, profecias, escolhidos e Dark Ones é tipicamente mais aceita pelo público jovem - não que não desperte interesse entre o público adulto. Não apenas isso, as relações entre os personagens são bastante juvenis, em nada oferecendo uma versão mais adulta dos romances anteriores destinados ao público adolescente.

O formato do livro é interessante, sendo dividido em três partes, e os capítulos entrecortados por documentos ultra secretos aos quais a personagem principal tem acesso e trechos de livros que ajudam a revelar a trama desta história ficcional. Infelizmente, talvez esta seja a única parte efetivamente interessante do livro.

A ideia do enredo é interessante, obviamente, porém, infelizmente, a autora não conseguiu explorá-la de forma satisfatória de modo a torná-la instigante e empolgante. Na verdade, ela se prende muito em tentar criar um mistério envolvendo a trama central e ir revelando aos poucos o conteúdo desta história e acaba esquecendo de criar um universo efetivamente inventivo e interessante.

Faz falta a existência de personagens vibrantes. O vilão é enfadonho e nem um pouco assustador, sendo que o único ponto de destaque é a destruição grotesca que ele causa, o que no final acaba sendo revelado que nem era causado por ele diretamente! A trama é lenta, mansa e sem inspiração, e quanto à mágica, fica claro que a autora quis ser inovadora neste aspecto, trazendo sifões, assobios e respirações mágicas, o que, embora inédito, é levemente ridículo e tedioso.

A personagem principal, Sloane, uma dos 5 jovens escolhidos com base em uma profecia para salvar a Terra das garras de um terrível e temível vilão, chamado Dark One, que causa uma destruição massiva por onde passa, drenando prédios, ruas, objetos e pessoas com requintes de crueldade, é esquisita, não gosta de nada, não parece ter personalidade própria e não causa empatia alguma, sendo praticamente impossível se relacionar com ela, seus dramas e sua história.

A ideia da autora é criar uma heroína anti-heroica, alguém que a população da Terra tem que idolatrar por ter sido ela uma das envolvidas em salvar a Terra da destruição, apesar de ela ser antipática, grosseira e apática. Parece que a escritora tencionava que a empatia surgisse por conta de todos os traumas e ausências sofridas pela personagem principal após ter sido eleita para a tarefa de salvar o mundo da destruição, especialmente quando ela obtém acesso aos relatórios ultra secretos da missão que evolveu o seu treinamento e desvenda que seu mentor não tinha qualquer afeição real por ela, como ela supunha, mas apenas usou de táticas psicológicas de manipulação para melhor conduzi-la a fazer exatamente aquilo que desejavam que ela fizesse.

Contudo, nada disso é capaz de amenizar a falta de personalidade de Sloane, que, na realidade, como ela mesma identifica em um ponto da trama, não quer nada, o que faz com que qualquer envolvimento ou preocupação do viajante com o seu futuro e com o desfecho da sua trajetória sumam por completo.

A personagem principal não gera empatia. Ela é esquisita, não gosta de nada e não é possível se relacionar com ela. No final é possível enfim criar algum vínculo com ela, mas apenas depois que ela começa a relacionar com Mox. O final é muito corrido para uma história tão densa e cheia de nuances. As questões de ficção não são tão bem explicadas quando se gostaria e acaba deixando um ar de final mal acabado.

"Às vezes Sloane se perguntava se valia a pena salvar o mundo."

A história ganha um pouco de interesse quando Sloane, Matt e Esther – outros dois dos escolhidos – são sugados para um universo paralelo onde há, supostamente, outro Dark One causando destruição por onde passa e onde uma profecia previu o fim deste mundo, que eles descobrem – ou são levados a acreditar – que está interligado à Terra. Ou seja, os três escolhidos precisam novamente enfrentar o maior vilão de todos os tempos – só que não – para salvar a sua Terra e este outro universo similar, porém onde existe mágica disponível para todos que queiram.

Sloane desconfia de tudo e de todos – não porque ela é extremamente inteligente, mas porque ela é simplesmente tão antipática assim – e, com isso, acaba tropeçando na verdade escondida e conhecendo pessoalmente o tal vilão que precisa combater, um jovem chamado Mox, que ela descobre não ser exatamente aquilo que parece ser – ou que lhe induziram a acreditar que é.

Este e o único personagem verdadeiramente interessante deste livro, e mesmo assim a autora consegue diminui-lo, fazendo-o parecer um cyborg cheio de sifões para realizar mágica, quando sua primeira revelação à Sloane é de que ele sempre foi capaz de realizar mágica, mesmo quando seus pais moravam em uma das cidades protegidas da magia deste universo paralelo, o que faz tudo ganhar uma proporção meio ridícula, quase tão ridícula quanto os instrumentos e usos da magia inventados pela autora. (Triste)

A ligação entre Sloane e Mox dá um novo foco de interesse para essa história tão cansativa e monótona, mas infelizmente isso não é suficiente para deixar a leitura instigante, pois os momentos dos dois são tão pequenos e rápidos que não dá tempo suficiente de aproveitar.

Para fechar com chave de ouro a monotonia da trama, o final é totalmente acelerado e deixa de fora a explicação de muitos fatores que foram apresentados como importantes durante a obra. Além disso, talvez a pior parte seja a revelação do vilão, que nem sequer é um vilão realmente, e o suposto ato de solidariedade de Sloane, ao assumir para si a responsabilidade de enfrentar o vilão e exterminá-lo de uma vez por todas.

O final fica aberto para uma possível sequência, que eu sinceramente espero que não aconteça, pois se a primeira versão já foi tão enfadonha, os poucos elementos interessantes que foram criados com o fim desta história certamente não seriam suficientes para gerar uma sequência digna de ser lida.

Eu certamente não repetiria este destino, pois já fiz outras viagens fantásticas muito mais interessantes e empolgantes, mas como cada pessoa encontra algo diferente ainda que trilhando o mesmo caminho, faça as malas, se achar que tem paciência para encarar essa viagem, e tire suas próprias conclusões e impressões. Talvez você consiga encontrar formas de aproveitar que eu não achei.

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