SOB A LENTE DAS CRIANÇAS - P. G. S. ZAGO (TEXTO ORIGINAL)

 


Que bom seria se todos os dias nós pudéssemos enxergar o mundo através das lentes mágicas e fantásticas das crianças. Os problemas derreteriam como algodão-doce na água. Não haveriam dificuldades financeiras, pois algumas meras moedas seriam suficientes para se tornar rico. Os inimigos seriam facilmente combatidos com espadas feitas de cabos de vassoura, galhos de árvore e escudos de caixa de papelão.

Pelas lentes especiais infantis iríamos enxergar apenas dias ensolarados, arco-íris com potes de ouro e unicórnios, céu cor-de-rosa. A chuva seria feita de biscoitos ou balas coloridas. Todas as mulheres seriam princesas e todos os homens seriam heróis e não haveria nada que não pudesse ser solucionado com colo e carinho de mãe.

Se pudéssemos usar as magníficas lentes das crianças, encontraríamos prazer em simplesmente comer batatas-fritas no jantar, doce antes do almoço, entregues pelos avós, aquelas criaturas místicas que misturam sabedoria, ternura e diversão. Acharíamos deleite em pular em poças de lama ou enfiar mãos e pés na areia molhada, sem se preocupar com sujeira e limpeza.

Através das lentes infantis veríamos a todos como iguais, independentemente da cor da pele, da religião, da formação acadêmica, do cargo que ocupam, do gênero com o qual se identificam. Nada disso iria importar enquanto todos estivéssemos correndo em uma brincadeira de pique-pega ou escondidos em pares no pique-esconde.

Com as lentes das crianças nossos medos seriam simples. Medo do escuro, do bicho-papão, do monstro embaixo da cama. Medos facilmente espantados pelos pais e mães heróis com o simples ato de acender a luz, deitar ao lado na cama, abraçar ou contar uma história.

Se pudéssemos usar essas lentes incríveis tudo seria transformado em pureza e diversão. Todas as mazelas do mundo seriam rapidamente solucionadas com simplicidade e imaginação.  E se nada desse certo, poderíamos tentar de novo no dia seguinte, sem medo de falhar. Cada dia seria um recomeço, um retorno ao novo, novas descobertas e adiamento da catástrofe.

Como seria esplêndido se pudéssemos manter essas lentes mágicas enquanto crescemos e continuar enxergando o mundo com pureza, singeleza, beleza e inocência. Que bom se nossa crença que tudo é possível, que de tudo somos capazes, que os sonhos se realizam (de verdade!), se mantivesse enquanto crescemos. Como seria incrível se o passar dos anos não afetasse nossa capacidade de acreditar na magia, em nós mesmos e de ver o mundo com olhos curiosos e sinceros como quando somos crianças.

Pelo menos por um dia, poderíamos tentar! Pelo menos por um dia poderíamos colocar essas lentes infantis novamente e sorrir a um completo estranho, sem preconceito ou receio. Abraçar nossos pais e avós e sentir esse afeto que conforta e reconstrói. Correr até perder o fôlego, pular de alegria e dar risada sem motivo, só porque estamos vivos e a vida é incrível!

Por um dia vamos nos permitir observar o mundo outra vez com esse olhar doce e inocente e agradecer pela oportunidade de descobrir o mundo, de se descobrir, de descobrir o outro e encontrar a felicidade em cada pequena coisa, como fazem as crianças. Pois elas sim sabem o segredo do mundo, que é na simplicidade que se encontram as coisas mais belas!

Singela homenagem àqueles que nos ensinam diariamente muito mais do que somos capazes de compreender!

Feliz dia das crianças para os que ainda são e para os que foram e seguem tentando ser!

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