
Este livro aborda o delicado tema
do suicídio. Um assunto que precisa ser tratado de forma consciente, clara,
empática e desmistificada. O que a autora faz de forma descomplicada e singela,
cheia de sensibilidade.
A história se passa em uma pequena
cidade da Inglaterra, onde Louisa Clark, a personagem principal, com 26 anos de
idade, poucas ambições, e uma personalidade atraente, mas um tanto excêntrica,
acaba aceitando um emprego como cuidadora de um jovem tetraplégico.
Will Traynor tem 35 anos de idade
e era um empresário de sucesso, com uma vida agitada e aficionado por
aventuras, esportes radicais, festas e viagens. Em um acidente trágico, ele
acaba perdendo os movimentos do corpo, ficando atrelado a uma cadeira de rodas
e necessitando de cuidados para realizar as atividades mais básicas.
Will é mal humorado, rude e
sarcástico, e Louisa tenta diversas abordagens diferentes para engrenar em um
relacionamento amistoso com ele, mas nada parece funcionar. Quando ela começa a
tratar com ironia os comentários de Will e se mostrar menos simpática à sua
condição, tratando-o como uma pessoa normal, apesar de sua condição física, os
dois finalmente começam a se entrosar.
A forma sincera e despretensiosa
como os dois se relacionam traduz uma singeleza à história, que é um tanto
pesada, considerando todas as privações e sacrifícios que envolvem a realidade
de Will. A relação de amizade sincera e verdadeira entre Will e Louisa é
apaixonante.
Ao mesmo tempo, a autora nos
transporta para o universo dos cadeirantes, evidenciando todas as dificuldades
diárias de locomoção, acesso, estrutura, a falta de consideração e compaixão
das pessoas, o preconceito e forma distorcida como as pessoas tratam os
cadeirantes em geral.
O livro dá uma reviravolta quando
Louisa descobre que seu contrato de trabalho possui duração de apenas seis
meses porque Will tem um trato com sua família, que após este período ele irá a
uma clínica na Suíça para cometer suicídio assistido.
Ela desiste do emprego, pois
sente que não pode fazer parte disso, mas acaba sendo convencida pela apática e
fria mãe de Will a permanecer até o final do contrato, movida pelas mudanças
significativas que Will vem experimentando desde que começou a conviver com
ela.
Louisa nutre uma ideia utópica e
sonhadora de fazer com que Will desista de seu plano, mostrando a ele que,
apesar de suas limitações, ele ainda é capaz de realizar muitas coisas e que
pode viver uma vida plena, mesmo em uma cadeira de rodas.
Ela organiza passeios e viagens
divertidos, mas a maioria deles dá errado, considerando a falta de estrutura
dos lugares para receber cadeirantes. Mas quando acha que Will vai ficar ainda
mais mal humorado, ele a surpreende, entrando em seu jogo e decidindo dar uma
chance à ideia dela, mais para fazê-la feliz do que a si mesmo.
A amizade dos dois torna o livro
cativante e surpreendente. Os dois estimulam um ao outro e se ajudam a lidar
com seus traumas e com suas limitações. Talvez Will ajude mais a Louisa do que
o contrário, o que dá a conotação de que Will realmente não é um inválido. Ele
possui grande valor e ainda é capaz de realizar muitas coisas importantes.
Esta história faz o viajante
questionar suas atitudes diárias e a forma como lida com os imprevistos e com
as mazelas do dia-a-dia, bem como faz refletir sobre solidariedade, amizade,
respeito, compaixão, e sobre o real significado do amor.
A autora contrapõe a personalidade
vivaz e alegre de Louisa à apática e fria personalidade da mãe de Will, que
apesar de amá-lo muito e querer ajuda-lo a viver sua vida da melhor maneira
possível, não consegue se relacionar com ele de forma empática. Ela não
consegue colocar seu julgamento de lado, como Louisa faz, a ponto de
estabelecer um diálogo verdadeiro e amoroso com o filho.
Este contraponto é muito
interessante do ponto de vista da prevenção ao suicídio, pois uma das
abordagens afasta, e a outra aproxima. A autora deixa isso muito claro ao
explorar as personalidades das duas personagens e a forma como cada uma impacta
o relacionamento com Will.
A frustração de Will e sua
dificuldade em aceitar sua nova condição ficam muito claras ao longo do livro,
e mesmo diante de todas as possibilidades que Louisa apresenta a ele, inclusive
a oportunidade de construir um novo romance com ela, e estabelecer com ela uma
nova vida, o que ela está disposta a fazer, ele ainda não consegue afastar seus
pensamentos negativos e suas incapacidades.
O final desta história é triste e
comovente, e um pouco decepcionante. Apesar de um mero final feliz não ser o
ideal para dar completude a esta história, eu ainda me desapontei com a
mensagem final de desesperança, ainda que a autora tenha tentado centrar o
final em torno da personagem principal, Louisa, e na forma como ela decide
encarar toda a sua experiência e enfrentar seus medos e traumas, para enfim
recomeçar.
Apesar do final melancólico, acho
importante esta leitura, especialmente por abordar um tema delicado de forma
tão clara e sensível, mas não com o olhar sobre o resultado final da trama, e
sim sobre todas as válidas perspectivas de esperança, compaixão e aceitação que
ela traz.
No cômputo geral, esta história
faz refletir sobre as diversas formas como podemos encarar os desafios com os
quais nos deparamos ao longo da vida. Podemos desistir de lutar, nos entregar à
dor e ao sofrimento, e deixar a vida passar por nós sem efetivamente vivê-la,
ou podemos nos apropriar daquilo sobre o que temos controle, decidir lutar
apesar das limitações e sacrifícios, buscar ajuda naquilo que não conseguimos
realizar sozinhos, e apreciar o que de bom a vida tem para nos oferecer.
O livro mostra que não há
necessariamente certo e errado. Que ambos os caminhos serão tortuosos, mas que
um deles certamente irá trazer muito mais ganhos. Viver é a melhor opção.
Faça as malas e embarque neste
romance singelo, repleto de desafios e percalços, e se deixe envolver pelos
sentimentos que esta história despertam, além de refletir sobre assuntos
deliciados, como suicídio e dificuldade de locomoção, e aproveitar as lindas
lições oferecidas por esta trama agridoce, melancólica, sensível, dramática e
apaixonante.
Vamos viajar?
História maravilhosa, muito bem escrita, com momentos de alegria, divertimento e muitos momentos tristes como é a vida.
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