O SENHOR DOS ANÉIS – J. R. R. TOLKIEN




Escrito entre 1937 e 1949, e publicado em 29 de julho de 1954, eis aqui o livro de ficção mais impressionante e completo de todos os tempos.

Embora escrito há mais de 70 anos, não há nada de antigo e ultrapassado nesta história, que se passa em um universo fictício chamado Terra-Média, e conta com a presença de inúmeros seres fantásticos, como Hobbits, Elfos, Anões, Magos, Orcs, Trolls, Balrogs, Nazguls, Wargs, Ents, e tantos outros.

A incrível criatividade em inventar um universo totalmente novo, criaturas fictícias e até idiomas diversos, tudo com profunda riqueza de detalhes, por si só já torna esse livro altamente relevante. Mas além de todos esses elementos, o enredo supera qualquer expectativa e apresenta uma história brilhante e singular, que veio a se tornar referência para muitos autores da atualidade, incluindo J. K. Rowling, autora de Harry Potter (e qualquer semelhança entre as duas obras não é mera coincidência!).

Essa trilogia, que iniciou o conceito de trilogias, começa com a história de Frodo Bolseiro, um hobbit habitante do Condado, região rural do oeste da Terra-Média, onde vivem esses pequenos seres que são extremamente caseiros e previsíveis, à exceção de Bilbo Bolseiro, tio de Frodo, que viveu uma grande aventura no livro O Hobbit (que não é uma leitura preliminar obrigatória, mas contém vários elementos importantes para o desenrolar desta trilogia) e decide partir novamente pelo mundo, deixando para Frodo seu principal legado, um anel mágico, que dá a capacidade ao seu portador de ficar invisível.

"Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,

Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los."

Frodo recebe a visita do mago Gandalf, que veio ao Condado para a festa de despedida de Bilbo, e ele acaba por revelar ao hobbit que o anel que recebeu de seu tio não é nada inofensivo, mas que trata-se do Um Anel do poder, que foi forjado nas chamas da Montanha da Perdição, e que o Lord Sauron, que supostamente fora derrotado por Isildur, numa batalha que quase destruiu a Terra-Média, está novamente ganhando forças e preparando seu exército do mal para recuperar este anel e escravizar todos os povos da Terra-Média.

Frodo, então, recebe a temível missão de levar este anel até a montanha de fogo onde foi forjado e destruí-lo, pois seu portador precisa ser alguém incorruptível e que não ceda à tentação de usar o anel para benefício próprio, e Frodo é o escolhido!

Ele acaba partindo em uma perigosa jornada rumo a Valfenda, onde vivem os elfos, de forma desajeitada, típica dos hobbits, e se vê inusitadamente acompanhado de seus três melhores amigos, Sam, Merry e Pippin. Por sorte, ou por obra de Gandalf, eles acabam encontrando o humano Aragorn, que ajuda o quarteto a chegar a salvo em Valfenda, a despeito das muitas ameaças que cercam o seu caminho.

Em Valfenda, Frodo reencontra o seu tio, Bilbo, e acaba participando da reunião do conselho, composto por representantes de cada raça, e lá se forma a Sociedade do Anel – que dá nome ao primeiro livro da trilogia -, composta pelos quatro hobbits, eis que os três amigos de Frodo se recusam a deixa-lo partir sozinho nesta missão; um elfo, Legolas; um anão, Gimli; dois humanos, Aragorn e Boromir; e o mago Gandalf, que lidera a companhia.

O grupo parte em sua jornada até Mordor, onde as sombras descansam e criaturas terríveis habitam, e uma inusitada cumplicidade e amizade se forma entre os personagens, cuja construção é feita de forma tão natural e sua evolução de maneira mais fluída e apropriada ainda.

A personalidade de cada personagem tem total relevância para o deslinde dessa trama, em que mesmo as mais improváveis e insignificantes criaturas podem mudar o curso da história.

O primeiro livro termina com a dispersão da sociedade, que acaba por se dividir em pequenos grupos que seguirão suas jornadas ao longo das Duas Torres – segundo livro – para garantir o sucesso da missão de Frodo.

Merry e Pippin acabam prisioneiros dos Orcs e são levados por caminhos tortuosos até encontrarem os Ents, árvores gigantes e antigas, e eles tem um papel crucial no convencimento destes seres a se envolverem na guerra que se desenrola no próximo livro.

Aragorn, Gimli e Legolas são forçados a tomar uma difícil decisão, entre seguir o rastro de Sam e Frodo e ajuda-los a concluir sua missão, ou seguir na direção contrária e resgatar Pippin e Merry dos terríveis Orcs.

Sam e Frodo acabam unindo-se à emblemática e inquietante figura de Sméagol-Gollum, que é um dos personagens mais interessantes já criados, e mostra figuradamente o exercício do domínio do poder do anel sobre um ser – podendo-se aqui fazer um paralelo filosófico sobre a capacidade do poder em levar o homem ao declínio.

Além disso, esse personagem possui quase uma dupla personalidade, o que se demonstra através do uso de seus nomes, Sméagol, o doce e inocente hobbit que ainda habita na criatura, e Gollum, a criatura corrompida pelo poder do anel, que busca o contato com ele numa relação de completa dependência, causando piedade no leitor, que é incapaz de torcer contra esse personagem e deseja mais que tudo a sua redenção.

Este livro é muito mais veloz que o primeiro e, ainda que também seja marcado pela riqueza de detalhes, sua principal característica é a belíssima discrição das batalhas nas quais os personagens se envolvem, fazendo o viajante sentir-se verdadeiramente dentro de uma guerra.

O final deste livro é extremamente impactante e o clímax ocorre quando Frodo se vê aprisionado por uma aranha gigante chamada Laracna, em um final sombrio e angustiante.

O terceiro livro, O Retorno do Rei, é o mais movimentado dos três e conclui com maestria e perfeição a trajetória de todos os personagens, após a guerra tenebrosa e trágica que culmina com muitas mortes que fazem arder o coração do viajante.

Neste livro, ganha destaque a personagem Éowyn, uma humana que se recusa a ser deixada para trás e decide se esconder sob sua armadura e sob o disfarce de homem para poder lutar ao lado de seus conterrâneos e ao lado do homem por quem se apaixona, Aragorn. O ápice desse personagem ocorre quando ela mata um Nazgul, decorrendo daí uma frase emblemática e cheia de significados e empoderamento feminino, quando ela finalmente revela sua verdadeira identidade.

- Nenhum homem vivo pode me matar.

 -Mas não sou nenhum homem mortal! Você está olhando para uma mulher! Sou Éowyn, filha de Éomund. Você está se interpondo entre mim e meu senhor, que também é meu parente. Suma daqui, se não for mortal! Pois seja vivo ou morto-vivo obscuro, vou golpeá-lo se tocar nele!"

O Retorno do Rei é o livro que encerra impecavelmente a história, revelando quem vence afinal, e como – sem spoilers! -, concluindo com perfeição essa viagem inesquecível de coragem, lealdade, amizade e honra.

"Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício."

Além de todos esses elementos fantásticos, da amplitude imaginativa de Tolkien, de sua habilidade narrativa em prender o leitor a cada página e descrever com requinte cada cenário com uma riqueza de detalhes impressionante, e construir personagens emocionalmente tão reais e cativantes, esse livro ainda contém outros elementos que eu aprecio muito.

Primeiro deles, ao contrário do que muitos podem pensar, essa não é uma história de homens. Pelo contrário, Tolkien destaca a força das personagens femininas, como Galadriel, Arwen e minha favorita Éowyn, que não estão sublimadas de modo algum pelos personagens masculinos, ainda que estes tenham mais destaque na trama.

Segundo, o Senhor dos Anéis possui vários romances paralelos à lendária e épica história principal, e todos eles possuem uma singeleza ímpar, e são construídos em um nível emocional que supera qualquer interação física utilizada abundantemente nos livros atuais.

Terceiro, todos os personagens passam por situações de profunda reflexão interna, quando são, de uma maneira ou outra, testados em seus valores mais intrínsecos, alguns sucumbindo às tentações e outros superando-as, e Tolkien leva o viajante por este labirinto de emoções e reflexões forçando-o a se confrontar com esses dilemas e observar criticamente seus próprios instintos e valores.

Quarto, o ponto central deste enredo é a relação de amizade e lealdade entre os personagens, o que fica evidente principalmente da relação entre Frodo e Sam, e da forma genuína como Sam auxilia Frodo em sua missão, sem competição ou rivalidade, erguendo e impulsionando o amigo e patrão a seguir em frente, acreditando em sua capacidade de concretizar seu objetivo, mesmo quando Frodo duvida de si mesmo.

Esse é um dos maiores exemplos do poder do amor e de como pode levar alguém a realizar tarefas praticamente impossíveis e impensáveis.

Faça suas malas apenas com aquilo que julgar essencial e embarque nesta lendária, grandiosa e impressionante aventura, permeada pela complexidade e criatividade do universo criado por Tolkien e prepare-se para ser testado em sua coragem, lealdade e honra ao lado desses inesquecíveis e apaixonantes personagens.

Vamos viajar?

P.S. – A trilogia é brilhante e fielmente retratada por Peter Jackson nos filmes vencedores de múltiplos Oscar, valendo muito a pena assistir e dar vida, literalmente, ao mundo e às criaturas fantásticas dessa história.

Também recomendo a leitura de O Hobbit, do mesmo autor, que conta a aventura de Bilbo e como ele conheceu Sméagol-Gollum e acabou se tornando o portador do anel que criou toda a guerra épica desta trilogia.


Comentários

  1. Eu tenho o livro compacto, capa Branca,Gandalf na frente...adoro essa história!!

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  2. A vaca pula pra lua!! 🥰🥰🥰

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  3. Impressionante a forma como descreve as obras, a atenção às características e percepção aos detalhes de cada personagem consegue encantar o leitor e fazer com que valorizemos ainda mais as histórias através deste novo olhar. Parabéns pela sua feliz e brilhante narrativa.
    Sucesso em teu Blog!

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