JOGOS VORAZES – SUZANNE COLLINS (THE HUNGER GAMES)


Essa trilogia fantástica de ficção infanto-juvenil estremeceu meus dias em 2012, e seguiu me sacudindo nos anos seguintes através dos filmes, que fizeram jus aos livros – o que é raro, na minha opinião.

A aventura de Katniss, personagem principal cheia de garra e determinação, se passa em um mundo pós-apocalíptico em que a Terra, agora chamada Panem, foi dividida em 13 distritos e um Capitólio. Cada distrito possui uma única base econômica e as pessoas vivem de forma bastante simples, enquanto no Capitólio tudo é luxuoso e as pessoas vivem em um clima de ostentação que não condiz com a situação do restante do planeta.

Houve uma guerra entre o Capitólio e o 13º Distrito, o qual acabou “exterminado” e, para celebrar a “paz”, foram criados os Jogos Vorazes, no qual 1 menino e 1 menina, entre 12 e 18 anos, de cada distrito, são escolhidos para entrar em uma arena e lutar até a morte, sagrando-se vencedor o último sobrevivente.

A heroína do Distrito 12, Katniss, acaba entrando nos jogos vorazes voluntariamente, quando sua irmã menor, doce e inocente, acaba sorteada para participar dos temíveis jogos, e Katniss a substitui, demonstrando coragem, amor e solidariedade, o que, de início, já a torna um personagem admirável. Mas, mais do que isso, Katniss é vivaz e determinada, e acaba por encarar seu infortúnio como uma oportunidade de manifestar sua opinião contra tudo o que o Capitólio representa.

A história ganha um ângulo diferente quando Peeta entra em cena. 

Peeta é o garoto do Distrito 12 escolhido para participar dos jogos vorazes ao lado de Katniss. Ao contrário dela, Peeta é calado e amável, e apesar de ter uma força física incrível, ele é um competidor extremamente vulnerável pela sua compaixão e humanidade.

O contrates entre os dois personagens torna a relação deles muito interessante e cativante, à medida em que Katniss vai impulsionando Peeta a se fortalecer e impor e fazer uso das suas qualidades para vencer o jogo, e Peeta inspira Katniss a ser mais altruísta, saindo do seu modo lutadora, caçadora e sobrevivente, para se tornar cada vez mais solidária com a luta de todos, que é a mesma que a sua.

Além disso, todos os desafios e contratempos que eles enfrentam na arena, e todo o cenário cruel criado pelos desenvolvedores dos jogos, que não cessa de enviar mais perigos para os participantes, colocando suas habilidades físicas, mentais e emocionais à prova a todo o instante, aliado à disputa entre os competidores, todos crianças submetidas a um ambiente extremamente hostil e forçados a matar uns aos outros para sobreviver, torna essa trama muito envolvente e emocionante!

Tudo isso pode parecer extremo e absurdo, mas não é tão dissociado da realidade quanto parece. Afinal, a luta entre homens e animais ferozes servia como espetáculo para as massas e imperadores no Coliseu numa realidade que supera qualquer ficção. Da mesma forma, atualmente o público se delicia com a vida privada tornada pública nos inúmeros reality shows veiculados, cujo sucesso é indicativo de um comportamento humano bastante invasivo e deturpado, não tão diferente dos personagens deste livro.

Além disso, essa história cria um paradoxo bastante interessante se formos refletir a nossa realidade atual.

Em nosso universo, assim como neste livro, há imensa discrepância entre as classes sociais (no livro entre os distritos e o Capitólio); de um lado extrema miséria em países de terceiro mundo e do outro uma fortuna e ostentação sem medidas; onde muitos jovens não possuem quaisquer meios de evolução e desenvolvimento e lutam contra todas as adversidades, assim como os jovens do filme são forçados a lutar uns contra os outros pela sobrevivência; onde muitos sobrevivem em meio a esgoto a céu aberto e lixo, vestindo trapos para se aquecer do frio, enquanto outros saboreiam banquetes e compram roupas de milhares de dólares.

Esse livro, além de conter uma história extremamente interesse do ponto da ficção, ainda nos faz pensar e refletir sobre o mundo em que vivemos, pois ele força a observar certos comportamentos – exagerados no livro – que são bastante parecidos com alguns comportamentos que nos cercam. E isso é chocante porque é verdadeiro!

Acredito que essa seja uma leitura bastante interessante e apta a ensejar muita discussão sobre temas importantes da nossa atualidade, especialmente entre os jovens, como o autoritarismo e a desigualdade social, bem como a manipulação da massa através do entretenimento e as opressões que um governo pode exercer sobre a população, todos esses temas existentes nessa trilogia.

Da mesma forma, outro ponto de extrema importância é como esse livro trabalha o empoderamento feminino, trazendo uma heroína real, e não idealizada, que desperta a empatia do leitor, mas também apresenta falhas e defeitos, o que a torna real e humana

Igualmente, a autora não usa de estereótipos comuns a personagens femininos, como a valorização do corpo, além de igualar os personagens femininos e masculinos, e, por vezes, até fazer uma inversão, na medida em que Peeta, por exemplo, acaba muitas vezes assumindo o papel destinado ao feminino, demonstrando mais suas emoções e sua fragilidade, ao passo que Katniss assume o papel usualmente masculino, da força e bravura, encabeçando a rebelião.

Todos esses elementos fazem dessa trilogia uma viagem intrigante e aventureira, recheada de reviravoltas, perigos, sustos, emoções e muita reflexão!

Escolha cuidadosamente os itens a serem colocados na sua bagagem, pois eles podem salvar sua vida durante esta trajetória, e embarque nessa aventura atual, divertida e empolgante ao lado de personagens emblemáticos e inspiradores!

Vamos viajar?

P. S. - Vale muito a pena conferir os filmes também, em especial pelo talento da atriz Jennifer Lawrence!


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