Essa trilogia fantástica de
ficção infanto-juvenil estremeceu meus dias em 2012, e seguiu me sacudindo nos
anos seguintes através dos filmes, que fizeram jus aos livros – o que é raro,
na minha opinião.
A aventura de Katniss, personagem
principal cheia de garra e determinação, se passa em um mundo pós-apocalíptico
em que a Terra, agora chamada Panem, foi dividida em 13 distritos e um Capitólio. Cada distrito
possui uma única base econômica e as pessoas vivem de forma bastante simples,
enquanto no Capitólio tudo é luxuoso e as pessoas vivem em um clima de
ostentação que não condiz com a situação do restante do planeta.
Houve uma guerra entre o
Capitólio e o 13º Distrito, o qual acabou “exterminado” e, para celebrar a “paz”,
foram criados os Jogos Vorazes, no qual 1 menino e 1 menina, entre 12 e 18
anos, de cada distrito, são escolhidos para entrar em uma arena e lutar até a
morte, sagrando-se vencedor o último sobrevivente.
A heroína do Distrito 12, Katniss,
acaba entrando nos jogos vorazes voluntariamente, quando sua irmã menor, doce e
inocente, acaba sorteada para participar dos temíveis jogos, e Katniss a substitui,
demonstrando coragem, amor e solidariedade, o que, de início, já a torna um
personagem admirável. Mas, mais do que isso, Katniss é vivaz e determinada, e
acaba por encarar seu infortúnio como uma oportunidade de manifestar sua
opinião contra tudo o que o Capitólio representa.
A história ganha um ângulo diferente quando Peeta entra em cena.
Peeta é o garoto do Distrito 12 escolhido
para participar dos jogos vorazes ao lado de Katniss. Ao contrário dela, Peeta
é calado e amável, e apesar de ter uma força física incrível, ele é um
competidor extremamente vulnerável pela sua compaixão e humanidade.
O contrates entre os dois
personagens torna a relação deles muito interessante e cativante, à medida em
que Katniss vai impulsionando Peeta a se fortalecer e impor e fazer uso das
suas qualidades para vencer o jogo, e Peeta inspira Katniss a ser mais
altruísta, saindo do seu modo lutadora, caçadora e sobrevivente, para se tornar
cada vez mais solidária com a luta de todos, que é a mesma que a sua.
Além disso, todos os desafios e
contratempos que eles enfrentam na arena, e todo o cenário cruel criado pelos
desenvolvedores dos jogos, que não cessa de enviar mais perigos para os
participantes, colocando suas habilidades físicas, mentais e emocionais à prova
a todo o instante, aliado à disputa entre os competidores, todos crianças
submetidas a um ambiente extremamente hostil e forçados a matar uns aos outros
para sobreviver, torna essa trama muito envolvente e emocionante!
Tudo isso pode parecer extremo e
absurdo, mas não é tão dissociado da realidade quanto parece. Afinal, a luta entre homens e
animais ferozes servia como espetáculo para as massas e imperadores no Coliseu numa realidade que supera qualquer ficção. Da mesma forma, atualmente o público se delicia com a vida privada tornada pública nos inúmeros reality shows veiculados, cujo sucesso é indicativo de um comportamento humano bastante invasivo e deturpado, não tão diferente dos personagens deste livro.
Além disso, essa história cria um
paradoxo bastante interessante se formos refletir a nossa realidade atual.
Em nosso universo, assim como neste livro, há imensa discrepância entre as classes sociais (no livro entre os distritos e o Capitólio); de um lado extrema miséria em países de terceiro mundo e do outro uma fortuna e ostentação sem medidas; onde muitos jovens não possuem quaisquer meios de evolução e desenvolvimento e lutam contra todas as adversidades, assim como os jovens do filme são forçados a lutar uns contra os outros pela sobrevivência; onde muitos sobrevivem em meio a esgoto a céu aberto e lixo, vestindo trapos para se aquecer do frio, enquanto outros saboreiam banquetes e compram roupas de milhares de dólares.
Esse livro, além de conter uma
história extremamente interesse do ponto da ficção, ainda nos faz pensar e
refletir sobre o mundo em que vivemos, pois ele força a observar certos
comportamentos – exagerados no livro – que são bastante parecidos com alguns comportamentos
que nos cercam. E isso é chocante porque é verdadeiro!
Acredito que essa seja uma
leitura bastante interessante e apta a ensejar muita discussão sobre temas
importantes da nossa atualidade, especialmente entre os jovens, como o
autoritarismo e a desigualdade social, bem como a manipulação da massa através
do entretenimento e as opressões que um governo pode exercer sobre a população,
todos esses temas existentes nessa trilogia.
Da mesma forma, outro ponto de extrema importância é como esse livro trabalha o empoderamento feminino, trazendo uma heroína real, e não idealizada, que desperta a empatia do leitor, mas também apresenta falhas e defeitos, o que a torna real e humana.
Igualmente,
a autora não usa de estereótipos comuns a personagens femininos, como a valorização
do corpo, além de igualar os personagens femininos e masculinos, e, por vezes,
até fazer uma inversão, na medida em que Peeta, por exemplo, acaba muitas vezes
assumindo o papel destinado ao feminino, demonstrando mais suas emoções e sua
fragilidade, ao passo que Katniss assume o papel usualmente masculino, da força e bravura, encabeçando a rebelião.
Todos esses elementos fazem dessa
trilogia uma viagem intrigante e aventureira, recheada de reviravoltas,
perigos, sustos, emoções e muita reflexão!
Escolha cuidadosamente os itens a
serem colocados na sua bagagem, pois eles podem salvar sua vida durante esta trajetória, e embarque nessa aventura atual, divertida e
empolgante ao lado de personagens emblemáticos e inspiradores!
Vamos viajar?
P. S. - Vale muito a pena conferir os filmes também, em especial pelo talento da atriz Jennifer Lawrence!
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